Ela olhou pros lados e se viu sozinha na multidão. Não que ela não soubesse como chegou lá ou como tudo isso aconteceu, apenas percebeu que as coisas já não tinham o mesmo brilho, as intensões já não pareciam tão convincentes e nem mesmo aquela ideia tranquilizadora parecia surtir o mesmo efeito.
Ela apenas respirou fundo e imergiu naquele mar de gente, aquele mar cheio
de desilusão e desesperança, talvez até um pouco de dor e desespero, mas não foi
o suficiente para limpar a sua mente. Também, como poderia ela limpar algo tão
contraditório de sua mente tão cansada. Como poderia ela simplesmente ignorar
aquela sensação de abandono e orgulho que não lhe permitia acalmar o coração e
muito menos tomar uma atitude pra resolver.
Queria ela que as coisas fossem mais simples, que as respostas fossem mais
sinceras e imediatas, que as complexidades fossem tão grandes quanto a escolha
do tipo de chocolate que quer comer. Uma pena que o mundo fosse assim, cheio de
pessoas que agem como se não se importassem ao que fazem com as outras, de
pessoas que simplesmente reclamam do mau que alguém fez a elas sem perceber que
estão cometendo o mesmo erro que lhes foi cometido. Por que as pessoas
simplesmente não aprendem e seguem em frente em vez de ficar repetindo o que
viveram, em vez de ficar refazendo os erros que tanto as atormentam.
Ela já não tinha esperanças a muito tempo, não tinha mais a ilusão
do príncipe encantado, do cavalo branco, das cenas de amor, dos buques de
rosas... Aliás, disso fazia muito tempo que abandonou a esperança, nunca
recebera um buque de rosas, na verdade nunca recebera uma rosa sequer, nunca
recebera um momento de atenção que não foi solicitada.
Justo ela, aquela menina romântica e sonhadora que sentada, olhando a vida passar pela janela de seus olhos, esperando aquela atitude, um movimento inesperado, uma ação que a deixasse ofegante, e quando finalmente acho aquele que lhe conseguia tirar o folego, aquele que conseguiu reacender o resto de esperança no seu coração em cinzas, também percebeu que não era pra ela aquele carinho.
Percebeu que não era pra ela aquela atenção, aquela dedicação, na verdade percebeu que nunca houve uma real dedicação a ELA, aquela que ali estava, que ali se mantinha, que ali aguentava, a espera de um sorriso bobo, a espera de uma palavra de carinho, a espera de algo inusitado que a fizesse sorrir.
Não conseguia entender o dilema, como alguém pode te querer por perto e
mesmo assim querer estar só? Como pode alguém pedir que fique e te tratar com
tamanha indiferença? Como pode alguém dizer palavras tão doces pra depois fingir
que nunca te viu na vida? Como ela poderia continuar essa luta com os fantasmas
vivos do seu passado?
Não quis chegar a conclusões, apenas seguiu andando no meio da multidão, já
sem forças para reclamar, já sem ambições que lhe permitissem uma atitude, já
sem anseios aos quais responder, já sem vontade para lutar por aquilo que
realmente quer. Abaixou a cabeça, senti o cheiro da realidade podre ao seu redor
e abafou os pensamentos em conversas alheias. Não que tivesse desistido, apenas
não iria mais lutar, a partir de agora iria apenas responder as ações do destino
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