domingo, 2 de setembro de 2012

O Merthiolate que parou de arder.

Quando você toma uma decisão e muda toda a sua vida, você tem que tomar as rédeas e assumir as consequências da decisão que só você tomou. 

Muitas vezes fazemos todos os cálculos, avaliamos os prós e os contras, colocamos numa balança imaginária tudo que nos pode acontecer para que tomemos uma decisão que pode mudar as nossas vidas. O problema é que sempre esquecemos de pesar algo que sempre faz a diferença nessas decisões.

As consequências são empecilhos necessários para formação do nosso caráter, são as respostas das nossas decisões sobre nossos atos, e só nós podemos determinar como vamos enfrentar isso e até que ponto podemos enfrentar sem pedir ajuda de ninguém.

Eu nunca fui uma pessoas de medir as consequências, mas desde pequena fui ensinada a responder em totalidade as consequências das minhas atitudes. E a primeira das coisas que aprendi é que, se você está disposto a correr, você está disposto a cair, sendo assim, você tem que assumir que uma dessas consequências é que você pode ralar o joelho. E se você ralar o joelho, a consequência para que você sare com segurança é passar merthiolate.

Só que no meu tempo merthiolate era vermelho. E ardi. Pra caralho.
Pra ajudar minha mãe tinha uma pomada preta a base de iodo que fedia muito e fazia o merthiolate arder mais ainda. Isso, posso dizer com toda a segurança, me ajudou a tomar mais cuidado quando eu corria, pois eu sabia que não teria apenas a dor do esfolão, mas teria também a dor do merthiolate, e da quela maldita pomada de iodo.

Assim como o esfolão eu aprendi que deveria tomar cuidado com as coisas, que deveria sempre responder aos meus atos, que sempre teria que responder sobre tudo que eu dizia ou fazia, mesmo que sem querer e principalmente quando o fazia impensadamente. Hoje agradeço muito a minha mãe por ter assoprado o merthiolate no meu joelho, pois tenho um caráter forte e decisivo.

Aprendi que se você está disposto a se apaixonar, você pode se machucar, se está disposta a agarrar uma vaga de emprego longe de casa, você terá que mudar-se e reorganizar-se, se você está disposto a  não ter um relacionamento sério e fixo, você também está disposto a abrir mão da sua preferencia para que a outra pessoa tenha seus momentos.

Mas em nenhum desses momentos você pode abrir mão de responder por inteiro as suas consequências. É necessário que haja uma responsabilidade com aquilo. Hoje vejo muitas crianças falando em situações que eu só fui pensar quando já era praticamente adulta, e fazendo coisas que não condizem tanto com a idade, quanto com o conhecimento de vida. O pior, fazendo coisas que depois além de arrependerem-se elas não responderão as consequências.

Muitos dos novos adultos (digamos que assim os adolescentes que estão quase adultos) não fazem nem questão de responder as consequências. Conheço pessoas que já deram perda total em carros, por estar bêbado e ainda dizer que ele não tinha nada que responder por que o cambio do carro deu problema (¬¬).
Vejo garotas de 14 anos grávidas de moleques de 15 porque precisavam "prender o namorado" por que "aquela vadia da rua de baixo" (vulga menina de 13 anos que já anda dando por ai) vai "roubar ele". E a consequência?? Um bebe que ou será criado pela avó e terá a mesma saída que os pais, ou será criada abandonada pelos pais que não saíram nem das fraldas direito e já tem que sustentar um filho e terá uma condição provavelmente pior e sem perspectiva dos pais.

É tudo uma questão de caráter. Não adianta a mãe dizer não pode, o pai dizer que é errado se essa criança, ainda na primeira infância não sofrer as consequências.

Eu tinha o merthiolate que ardia.
Eu tinha a maldita pomada de iodo.
Hoje eu tenho caráter e assumo minhas culpas e consequências.

Como já disse antes, não sou uma pessoa de pensar em consequências ao tomar uma decisão, de pesar as medidas e as situações, mas respondo a tudo que vem em resposta ao que faço. Recentemente abandonei toda uma vida, amigos, família e toda uma vida estruturada por uma proposta de emprego. Resultado? Ficar mais sozinha do que jamais estive, sem amigos e reestruturando minha vida toda. Foi viável?? Hoje eu vejo que sim, por todos os prós que tenho tido.

Mas isso só é válido por que aprendi a responder as consequências com integridade e responsabilidade.
E do meu ponto de vista, quem não tem caráter pra responder a todos os seus atos é porque nunca aprendeu que um ralado no joelho dói, por que nunca aprendeu que se você se apaixonar você tem que se entregar para evitar machucar alguém e que se você rouba um banco, você vai preso. Isso não vale para políticos infelizmente.

Sendo assim, eu acredito que a sociedade de hoje anda tão fraca, besta, corruptível e sem caráter por que as pessoas nunca aprenderam o quanto dói o merthiolate no joelho ralado.

Fica a dica pros grandes farmacêuticos, quem sabe se o merthiolate voltar a doer, as pessoas aprendam desde cedo que as consequências estão ali para lhe ensinar caráter. Talvez com o merthiolate voltando a doer, a sociedade seja salva. 

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