domingo, 2 de dezembro de 2012

Um lagartear ao sol

Aquele momento em que você fica perdido, olhando as paredes do quarto, apenas sentindo-se só, mas dando graças a Deus por estar assim, sozinho em seus pensamentos, sem cronogramas, sem horários, sem previsões sem programações... Sem expectativas.

A não expectativa é uma das melhores e mais desgastantes sensações que se pode ter...É complexo... É a falta de sensações, é a falta de sentimento, é a falta da angústia, da ansiedade. É o vazio emocional. é o brando, calmo, escuro, silencioso e vazio espaço emocional onde apenas você se encontra.

É nesse momento em que você se encontra, que você se delimita e de delineia. Que você consegue se entender por inteiro e se reestruturar nos seus moldes. Sempre gostei desses momentos em particular, em que me pego sozinha e distraída, olhando as paredes claras que me cercam no quarto, sem som, sem música, sem conseguir identificar o que me toma por completo. São sempre nesses momentos que consigo balancear os prós e os contras da minha vida sem deixar que o sentimental se mostre.

Muita gente não se permite ter esses momentos, ou talvez apenas não descobriram que esse momento existe, e simplesmente vive no impulso de suas emoções e não pensa em como isso pode lhe afetar, ou como isso afeta quem está a sua volta, os resultados que isso reflete no seu ser. Pessoas impulsivas te cativam e te influenciam de uma maneira tão natural que você não se sente influenciado, e quando vê está envolto em uma névoa de insegurança e impulsividade de onde é difícil fugir.

Passei uma séria fase numa dessas nuvens impulsivas, pelo medo excessivo de ficar só, durante um tempo cai nesses devaneios com tamanha frequência, que em um determinado momento simplesmente parei de sentir e comecei a apenas pensar em tudo de uma forma muito mecânica e passei a sentir falta de mim. E a sentir medo de ficar só, de me tornar menos humanas.

Sei de pessoas que insistem em tentar se trancar nesses devaneios, mas não percebem que não é forçando que esses devaneios vem, que não é ficando sozinho o tempo todo que vai conseguir invadir o vazio emocional que libera essa orda de pensamentos. Isso os torna apenas menos humanos, menos palpáveis, menos reais, menos presentes, e muitas vezes quando em grupo, menos interessantes e um bom tanto desagradáveis. Essas, tem que entender que apenas quando estiver distraído o suficiente é que conseguirá por os pensamentos em ordem, e não por que está sozinha.

Alguém uma vez disse que "solidão não é estar só, é sentir-se só em meio a uma multidão", e eu considero essa uma das verdades mais profundas da vida moderna, um dos fatores mais cruciais para o mundo que temos hoje, para a grande disseminação das redes sociais, para o afastamento de amigos, para a não saudade de pessoas próximas, para a não ausência de amigos, para a não falta de abraços, beijos, carinhos e cafunés... Esses por sua vez tem até perdido o sentido.

Eu só realmente percebo que estou carente ( e nesse ponto eu imploro por colo, carinho e atenção, mesmo que falsa e de curta duração de qualquer pessoa que possa me abraçar) quando me pego fazendo cafuné em mim mesma, o que não é um cafuné. Cafuné é receber carinho de alguém, é fazer carinho em alguém, é pegar no colo, dar um abraço, sentir o cheiro, não o simples ato de esfregar as mãos na cabeça.

É a ausência constante de expectativa, ou a presença constante da falta de esperança, já não sei dizer, que causam esse efeito. Acho que faltam paredes claras e momentos de devaneio no mundo, a redefinição de prioridades, ou apenas falta ao mundo sair pra ver a luz do sol, sem seus computadores, seus IPods, Iphones, notebooks e redes wireless, sentar sob o sol, fechar os olhos e lagartear, até que seu devaneio esteja completo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário